quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Avó?



De quando em quando, há uma crítica musical, que por motivos menos abonatórios, provoca-me indignação.
O assunto foi a “Review” do álbum “Mantaray” da “Siouxsie”, publicada na “Blitz” de Outubro de 2007, que saiu para as bancas no final do mês de Setembro. Começa logo pelo título:”A avó gótica”.
Eu nem quero acreditar que alguém refere-se a um artista com tal adjectivo, como se a sua vida profissional tivesse paralelo com este estatuto familiar que só tem interesse na esfera privada. Considero falta de tacto e de imaginação referir-se a um artista reduzindo-o a este estatuto.
Mas a indignação aumenta, quando leio, logo o primeiro parágrafo: “É evidente que, em 2007, o mundo não precisa de Siouxsie Sioux para coisa nenhuma”.
Não acreditei quando li a primeira vez, nem na segunda, nem na terceira. Ainda tenho dificuldade em acreditar. Pegando na linha de pensamento do crítico, o mundo não precisa de Siouxsie nem de nenhum outro artista. Posso ficar satisfeito simplesmente com o que o mundo me dá. Ou posso ignorar o que o mundo me dá. Ou posso, até nem saber o que o mundo me dá. Portanto, a que propósito se diz uma coisa destas?
Mas a indignação aumenta. Oh! Sim, aumenta. Logo na frase seguinte: “O tempo dela já passou, quando nos anos 80, encarnou a figura gótica”.
O tempo dela já passou? O que é que significa isto? Só porque teve uma carreira de sucesso nos anos 80, com os “Banshees” e com menos imediatismo com os “Creatures” (anos 90), já não pode gravar um álbum? Porque o tempo dela já passou? Mas eu pergunto: Perde-se a validade com a idade? Deixamos de ser activos, criativos e inteligentes a partir de alguma idade em particular? Já estou em pânico: Há alguma forma de reverter o processo?
Mas a minha maior indignação reside na frase seguinte:” Na altura, entre restos Punk, Neo-Romantismos de superfície lisa e Pop açucarada, as criações da Siouxsie eram de uma estranheza interessante”.
“Eram de uma estranheza interessante”? OH Meu Deus! Em que condições é que este jornalista escreveu este artigo? Não tinha nada mais interessante para dizer? Não lhe ocorreu mais nenhuma nesga de criatividade? “Estranheza interessante” não diz rigorosamente nada. É inócuo, vazio.
O resto do artigo é uma sucessão de blá-blás que nada acrescenta à “review”, nem mesmo quando acaba com “Não vai ser o sabor do mês mas mostra uma Siouxsie sem perda de jeito para a escrita”. Mas o que é isto? Mas quem tem a coragem de assinar um texto destes e reclamá-lo como seu? Bem sei que vem assinado como MC, mas isso não diz nada. Aliás como o resto do artigo.

1 comentário:

rita maria josefina disse...

É por essas e por outras alarvidades 'Blitzicas' que eu deixei de comprar o Blitz.... No que diz respeito ás revistas (e não só) do assunto cheguei a conclusão que viraram quase todas 'Caras Blitz' 'Lux Blitz' - se é que me faço entender..