quinta-feira, 24 de abril de 2008

Made in Portugal


Motivado pela “abertura” do “myspace – Portugal”, sou confrontado com velhos fantasmas que assombram a minha existência. Ao aceder ao “myspace” sou recambiado automaticamente para a página portuguesa. Não tenho nada contra. Ou melhor, não teria nada contra, caso não fosse a particularidade de as sugestões serem maioritariamente de bandas portuguesas. Ainda assim, não teria nada contra, se não fosse pelo facto de não conseguir aceder ao que eu vou chamar “myspace internacional”.
Ou seja, o que me transtorna seriamente, é o facto de eu me ver restringido apenas ao acesso a este “sítio”, que divulga a música portuguesa com tamanha graciosidade. Não tenho nenhum problema com a música portuguesa, mas tenho problemas quando me vedam o acesso a outro tipo de género musical. Seja ele qual for ou de que origem for. E aqui cabe de facto toda a diversidade pela qual o mundo da música é composto e o qual é tão rico.
Provavelmente é o meu acesso à Internet, através do meu computador, que me limita. Provavelmente. Mas que é frustrante é. Porque sinceramente não me identifico com a música portuguesa, salvo “Balla”, “Micro áudio waves”, “Dead Combo”, “wraygunn”, “legendary tiger man” entre outros, mais ou menos próximos destes géneros. Não porque ela não tenha qualidade, nem porque não haja bandas que pratiquem o “meu estilo”, nem nada que se pareça. Não. É uma questão de química. Existe um maior envolvimento/entendimento entre mim e bandas que, por acaso, não são de Portugal. São elas que me transportam e provocam sensações e com as quais me identifico. Tão simples quanto isso. Identificação.
Não condeno ninguém por gostarem de música portuguesa, nem de outro sítio qualquer nem condeno ninguém pelo seu gosto. Agora não me condenem por me identificar/gostar da música que desejo ouvir. Não me vetam o acesso à informação.
Desde muito novo, tenra idade ainda, que gosto e ouço muito música (ou não acatasse o desígnio de “Music is my radar”). Também desde muito novo que ouço a queixa impiedosa de que “não se ouve música portuguesa em Portugal”, eis então aqui o velho fantasma que me acompanha. Será por causa disto que foi criado o “myspace Portugal”? Para dar voz a esta velha e falsa questão?
Não posso aceitar, porque sempre se ouviu música portuguesa. Senão vejamos: por causa de um meu vizinho mais velho do que eu, ouvia “Táxi”, “GNR”, “Heróis do Mar” entre outros. Mais tarde, eu ouvia na rádio, na televisão, ou em concertos: “Rádio Macau”, “Xutos e Pontapés”, “Peste e Siga” entre outros. A seguir, “Diva”, “Madredeus”, “LX 90”, “Mão Morta”, entre outros. Depois vieram os “Belle Chase Hotel”, “Ornatos violeta”, “Clã”, “Silence 4”, “The Gift”, entre outros. E por aí fora. Até aos dias de hoje.
Com isto o que eu quero dizer é que sempre houve e se ouviu música portuguesa na rádio, na televisão (até existiu um programa especifico de musica portuguesa – “Made in Portugal”, que a dada altura quase só passava música brasileira…). Portanto onde está o problema?
Se não há consumo interno de música portuguesa em termos de compra efectiva dos seus discos, isso já outra história. Não deve ser por falta de divulgação. Ou se é, então os mecanismos ou canais de divulgação não estão a ser os melhores.
Posto isto, não posso crer nem aceitar que só havendo a divulgação de musica portuguesa barrando o acesso à demais é que ela singra. Se tal for o facto então temos um problema. E ele não é de quem o ouve mas de quem a divulga/vende e de quem a faz.
Porque, quanto a mim, sempre tive a sensação de que existe um hiato entre aquilo que se ouve e se produz lá fora e aquilo que é produto nacional. Mas aqui a culpa não é com certeza do ouvinte. E para ilustrar este caso, um exemplo: “Rita Redshoes” tem disponível no “myspace” temas há sensivelmente um ano. Somente há 6 meses (aproximadamente) é que começou a passar na rádio insistentemente (porque já passava havia mais tempo). E somente este ano (em Março – há um mês portanto), é que chegou às lojas. Parece evidente que neste processo há algo que falha. E não é culpa do ouvinte com certeza. Pois eu não tenho culpa nenhuma que passados um ano desde a primeira vez que ouvi e gostei da música é que está disponível para a venda, e que infelizmente nesta altura “já estou noutra” porque entretanto conheci coisas que me estimulam mais musicalmente.
Mas isto acontece não é porque ela é portuguesa. Por quantas bandas internacionais não perdi o interesse por razões idênticas! Exemplo: “sons and daughters”.
Portanto não culpem os ouvintes pela forma como é gerida a música portuguesa – e todo o cenário musical – pois só chega a Portugal por importação, grande parte da música que se produz lá fora, e mesmo assim, muitas vez só através da “Amazon”. Se tendencialmente o “aportuguesamento” dos instrumentos faz com que restrinja o acesso à música internacional, nem quero imaginar uma “Amazon Portugal” com barreiras ao resto do mundo. Nem quero pensar! Sim, porque desde que há a “MTV Portugal”, por exemplo, deixei de ter interesse em ouvir/ver música naquele canal. Pelas razões apontadas aqui e por outras que não cabem neste “post”, e não nada tem a ver com a música.
O que eu desejo é continuar a ter livremente acesso a toda a música. E quando falo em “toda” é toda no sentido global do nosso planeta. Somente isso.

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